Marcelo Ádams

Marcelo Ádams

sábado, 10 de outubro de 2015

O GATO DE BOTAS: QUEM DISSE QUE SÓ O CÃO É O MELHOR AMIGO DO HOMEM?

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Fiquei muito satisfeito e fui surpreendido com O gato de botas, espetáculo para crianças encenado pela Cia de Teatro Menino Tambor. Daiane Oliveira, diretora do espetáculo e autora do texto, alcançou um ótimo resultado na transformação da conhecida fábula do gato de botas, de Charles Perrault, em um dinâmico, divertido e bem executado musical. Quando se fala em teatro musical, vem logo como referência para nós os grandes espetáculos da Broadway (apesar de que Cats, talvez um inspirador para a montagem do Menino Tambor, estreou em 1981 em Londres, antes do grande sucesso que iniciou em Nova York e resto do mundo), mas aqui, sem a megalomania norte-americana, chega-se a uma bela condensação, com o elenco pequeno e carismático dando conta de atuar, cantar e dançar. A esse respeito, convém lembrar que no Brasil, desde o século XIX, portanto antes do boom da Broadway, o teatro musicado é uma preferência nacional. Alguns críticos até justificam a pouca tradição de uma dramaturgia brasileira pelo estrangulamento cometido pelos gêneros musicais desde os anos de 1860, especialmente no Rio de Janeiro, quando as chamadas "peças sérias" foram ofuscadas pela alegria, descompromisso e descontração associados a espetáculos em que o mais importante era entreter as plateias com ritmos "quentes" como maxixe, fandango e samba, sem contar as operetas vienenses aqui reencenadas. Ou seja, no Brasil, o teatro musical está no DNA.
Por opção da encenação, a ênfase recai sobre atuação e canto, ficando a dança um pouco menos ressaltada, apesar do ótimo preparo físico (e vocal! Que lindas suas vozes) principalmente de Guilherme Ferrêra e Lucas Krug. A trilha sonora de Arthur de Faria é excelente, e muito bem executada ao vivo pelo trio que está visível o tempo todo em cena, mas não fossem as canções tão bem entoadas pelo elenco, não se potencializaria, como o foi, a beleza musical (não encontrei os nomes dos músicos, só reconheci Léo Ferlauto).
Em resumo, O gato de botas é um delicioso divertimento, imagino que também para os adultos, já que não infantiliza (no mau sentido) a encenação, não incorre em pieguices nem menospreza a capacidade das crianças de captarem as brincadeiras com a linguagem teatral. Uma bem acabada produção, em todos os sentidos, do elenco bem escolhido aos elementos visuais e sonoros.