Marcelo Ádams

Marcelo Ádams

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Gravidade

Gravidade é o sétimo longa metragem do cineasta mexicano Alfonso Cuarón, e um dos pontos altos, até o momento, de uma carreira em que se destacam o inesquecível E sua mãe também (2001), além de, talvez, o melhor dos longas da série Harry Potter - Harry Potter e o prisioneiro de Azkaban (2004) - e do impactante Filhos da esperança (2006). No entanto, apesar da bela trajetória cinematográfica anterior, Gravidade parece representar, dentro do panorama da história do cinema, um daqueles filmes que se tornam referenciais, seja por apresentarem narrativas inovadoras, seja por constituírem avanços técnicos impressionantes. Nesta última categoria, a dos efeitos visuais, Gravidade filia-se a títulos como 2001- uma odisseia no espaço (1968), Tron- uma odisseia eletrônica (1982), O passageiro do futuro (1992), O exterminador do futuro 2 (1992), Titanic (1997), O senhor dos anéis (trilogia a partir de 2001) e Avatar (2009), no que eles trouxeram de concretização do imaginário, função anteriormente reservada à literatura e aos referenciais visuais de quem lia as páginas cheias de mirabolantes imagens. Com esses filmes, não precisamos mais imaginar como seria, exatamente, um mundo onde naves espaciais são realidade, ou extraterrestres nos visitam. Diretores como Stanley Kubrick, Steven Spielberg, James Cameron e, agora, Alfonso Cuarón, nos guiam e apresentam maravilhas antes apenas imaginadas.
 
O filme de Cuarón é ambientado, em 99% do tempo, no espaço sideral, seja dentro ou fora de módulos espaciais tripulados, onde as personagens de Sandra Bullock e George Clooney circulam. As recriações do ambiente espacial, em que a falta de gravidade é total, provocando a flutuação dos corpos humanos e de todos os objetos, são nada menos que extraordinárias. A perfeição atingida pela equipe técnica do filme em matéria de cenografia e fotografia, por exemplo, colocam Gravidade como um dos grandes filmes da história do cinema. É preciso também destacar o ótimo trabalho de Sandra Bullock, ao que me lembre, o melhor de sua carreira no cinema.
É um filme de aventuras, em que suspense e drama familiar também se fazem presentes, em diferentes proporções. Mas há, no roteiro, uma preocupação em dar uma camada a mais de significados às provações às quais as personagens são submetidas. Referências visuais à concepção humana são recorrentes (em uma cena, Sandra Bullock é filmada flutuando em posição fetal, como um bebê no útero da mãe; em outra sequência, muito bonita, o módulo em chamas no qual Sandra Bullock viaja, em altíssima velocidade em direção à Terra, parece um espermatozoide na corrida em direção ao gigantesco óvulo-planeta). Também há espaço para citar a teoria da evolução de Darwin, quando o módulo em que Sandra Bullock viaja cai em um oceano na Terra, afundando, e obrigando a personagem a nadar em direção à vida (a superfície da água). Nesse momento, um sapo passa nadando tranquilamente ao lado da astronauta, sugerindo a trajetória evolutiva de milhões de anos, que nos levou, Homo sapiens sapiens, da simples forma unicelular até a forma atual, passando pela forma de anfíbios, quando nossa espécie abandona a água (o líquido amniótico no qual estamos mergulhados durante a gestação).
Um lindo filme, obrigatório de assistir, mas (lamento aqueles que não tem oportunidade de assim o fazer), cuja experiência integral de fruição só se dá em um cinema IMAX 3D, como o que assisti. A grandiosidade das imagens na grande tela é parte intrínseca da experiência estética que o filme nos proporciona. Somos, como as personagens que ficam à deriva no espaço, um ínfimo ponto no universo infinito, e o gigantismo da tela IMAX nos dá um pouquinho dessa sensação.